sexta-feira, 24 de outubro de 2014

HÁ VIDA INTELIGENTE NA TERRA?




Imagine que você é um explorador alienígena entrando no Sistema Solar depois de uma longa viagem pela escuridão do espaço interestelar. Você examina de longe os planetas dessa estrela trivial – um bom número, alguns cinzentos, alguns azuis, alguns vermelhos, outros amarelos. Você está interessado em saber que tipo de mundos eles são, se nesses ambientes há vida e inteligência. Você não tem conhecimento prévio da Terra. Acabou de descobrir a sua existência. Vamos imaginar que exista uma ética galáctica: olhe, mas não toque. Você pode voar por esses mundos, pode girar ao redor deles, mas está rigorosamente proibido de pousar. Sob tais restrições, conseguiria descobrir como é o ambiente da Terra e se alguém nela vive?

À medida que se aproxima, sua primeira impressão de toda a Terra, são nuvens, calotas polares brancas, continentes marrons e uma substância azulada que cobre dois terços da superfície. Uma medição da temperatura revelaria que na maior parte do planeta esta por cima do congelamento da água e apenas nos pólos é inferior. Os espectrômetros de sua nave ainda revelam que o ar nesse mundo é um quinto de oxigênio. Isso sugeriria que exista vida? Mas essa vida só poderia ser apenas plantas fotossintéticas. Alem, do oxigênio, não há sugestão de um nível elevado de inteligência. Outro aspecto peculiar seria encontrar metano e oxigênio juntos na mesma atmosfera. O que significaria? A única explicação possível é que o metano provém de fontes como bactérias em pântanos, cultivo do arroz, queimadas, gás natural de poços de petróleo e flatulência bovina. Que a íntima atividade intestinal das vacas seja detectável do espaço interplanetário é um pouco desconcertante, especialmente quando tantas coisas que valorizamos não o são.

O Allen Telescope Array (ATA) é um "é formado por varias antenas pequenas, que interligadas eletromagneticamente da a eficacia de uma grande antena. Este radio telescópio utilizado pelo SETI Institute é projetado para ser altamente eficaz na procura por ondas de  de rádio as quais seriam sinais inteligência extraterrestre
A detecção do um tipo especial de onda de rádio que emana da Terra. Seria uma evidencia de vida inteligente. Embora,  muitos processos naturais são capazes de gerá-las. Pois, já encontramos emissões de rádio vindas de outros mundos aparentemente inabitados: geradas por elétrons presos nos fortes campos magnéticos de planetas, por movimentos caóticos na frente de choque que separa esses campos magnéticos do campo magnético interplanetário, e por raios. Isto, porém, é diferente: parte da transmissão de rádio vinda da Terra está numa freqüência central constante para cada transmissão, ao que ainda é acrescentando um sinal modulado (uma seqüência complexa de intervalos). Nenhum elétron em campos magnéticos, nenhum choque de ondas, nenhuma descarga de raio pode gerar algo parecido. A sua conclusão de que a transmissão de rádio se deve à existência de tecnologia sobre a Terra é válida, independentemente do que as intermitências significam: você não tem de decodificar a mensagem para estar seguro que é uma mensagem.
Imagem feita a bordo da estação espacial internacional mostra o mar Mediterrâneo, a peninsula do Sinai e o delta do rio Nilo
Assim, se saberia que pelo menos uma espécie sobre a Terra alcançou a tecnologia do rádio. Qual delas? Os que produzem metano? Aqueles geram oxigênio? Ou alguma outra espécie, mais sutil, seres que de outra forma não são detectáveis por uma nave espacial que se precipitasse por perto? Para buscar essa espécie tecnológica, você talvez queira examinar a Terra em graus de resolução cada vez mais precisos, à procura, se não dos próprios seres, pelo menos de seus artefatos.

Você primeiro empregaria um telescópio modesto com o qual apenas veria oceanos, desertos e Kilometros de montanhas, poucas crateras isso provaria que a Terra é geologicamente ativa. Mas, nenhum sinal de vida. No entanto, à medida que se olha com uma resolução mais alta pode ver que há também lugares estranhos rodeados de vegetação embora eles próprios não exibam plantas. Parecem borrões descoloridos sobre a paisagem. Isso seria mais uma evidencia de vida inteligente embora ainda não possa se chegar à conclusão de que tipos de seres são estes.
Já olhando com resolução muito elevada, descobre que existem  linhas retas que se entrecruzam dentro das cidades e as longas linhas retas que as ligam com outras cidades estão cheias de seres multicoloridos, aerodinâmicos, com alguns metros de comprimento, deslocando-se polidamente um atrás do outro num cortejo longo, lento e ordenado. Eles são muitos pacientes. Nos ângulos retos, uma corrente de seres detém para que outra corrente possa seguir adiante. À noite, eles acendem duas luzes brilhantes na frente para poderem ver o caminho. Alguns, uns poucos privilegiados, entram em casinhas ao final de um dia de trabalho e se recolhem à noite. A maioria não tem casa e dorme nas ruas. Por fim! Você detectou a fonte de toda a tecnologia, as formas de vida dominantes do planeta. As ruas das cidades e as estradas dos campos são evidentemente construídas para o seu proveito. Você poderia pensar que está realmente começando a compreender a vida sobre a Terra. E talvez tivesse razão.

Todas as observações que você fez até agora foram no lado do planeta em que é dia. Algo muito interessante é revelado quando olha para a Terra à noite: o planeta é iluminado. É possível reconhecer que as luzes traçam os contornos dos mesmos continentes vistos durante o dia; e muitas correspondem às cidades que você já indicou no mapa. As cidades estão concentradas perto dos litorais. Tendem a ser mais esparsas no interior dos continentes. Talvez os organismos dominantes precisem desesperadamente da água do mar (ou talvez os navios que cruzam os oceanos tenham sido no passado essencial para o comércio e emigração).

Parece-me tranqüilizador saber que do espaço você pode detectar tão facilmente miudezas da vida sobre a Terra – os hábitos gastrintestinais de ruminantes, enquanto uma parte tão grande de nossa arquitetura monumental, as nossas maiores obras de engenharia, o nosso empenho em cuidarmos uns dos outros são quase totalmente invisíveis. É uma espécie de parábola. A esta altura, sua expedição à Terra deve ser considerada extremamente bem-sucedida. Você caracterizou o ambiente, detectou a vida, descobriu manifestações de seres inteligentes e talvez até tenha identificado a espécie dominante, a que é impregnada de geometria euclidiana e retilinearidade. Desde o espaço seria muito difícil de saber ao certo se a Terra é habitada por vida inteligente ou simplesmente por seres que produzem descontroladamente gases que contaminam a sua atmosfera, o único sinal de que somos uma civilização inteligente, superior as bactérias ou plantas  seria apenas nossas transmissões de radio e não nossa arrogância, preconceito e egoísmo que é comum aqui na Terra achar que isso nos torna superiores um dos outros.

Texto adaptado do livro Pálido Ponto azul do astrônomo Carl Edward Sagan

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