sexta-feira, 13 de maio de 2016

Somos Errantes




Fomos errantes desde o início. Conhecíamos a posição de todas as árvores num raio de duzentos quilômetros. Quando os frutos ou as castanhas amadureciam, lá estávamos nós. Seguíamos os rebanhos em suas migrações anuais, Dependíamos uns dos outros. Viver por conta própria era uma idéia tão absurda quanto fixar residência. Trabalhando juntos, protegíamos os filhos dos leões e das hienas. Ensinávamos a eles as habilidades de que iriam precisar. E as ferramentas. Naquela época, como agora, a tecnologia era a chave de nossa sobrevivência.


Quando a seca era prolongada, ou quando o frio se demorava no ar do verão, nosso grupo partia – às vezes para terras desconhecidas. Procurávamos um lugar melhor. E, quando não nos dávamos bem com os outros em nosso pequeno bando nômade, partíamos à procura de um grupo mais amigável em algum outro lugar. Sempre podíamos começar de novo. E isso poderia se repetir de novo num futuro não muito distante.
Se um dia a Terra apresentar dificuldades para sustentar a vida, ou houver uma mudança considerável no clima, já seja por ações da natureza ou forçadas pela atitude irresponsável de nos os humanos, Teremos que partir rumo à conquista de novos territórios que possam nos abrigar talvez esse lugar seja primeiramente dentro de nosso próprio sistema solar, já seja em algum planeta ou lua dos gigantes gasosos de nosso sistema solar.
Já passou a época na qual estávamos limitados pelo céu, agora temos a capacidade de num futuro próximo nos aventurar no espaço a conquistar territórios desconhecidos, adequar novos mundos para nos hospedar.  Talvez sejam um pouco assustadoras  essas novas aventuras. Pois, já faz milhares de anos que deixamos a vida nômade e apesar de todas as suas vantagens materiais, a vida sedentária nos deixou irritáveis e insatisfeitos.  Mas, nosso desejo por novas aventuras não conseguiu se extinguir por completo, é como se ainda existi-se uma vaga lembrança dentro de nos dos tempos de nossa vida nômade, a minha suspeita é de que o apelo a nos aventurar a conquistar mundos novos tem sido meticulosamente elaborado pela seleção natural, como um elemento essencial de nossa sobrevivência. Devido a nossa incapacidade de predizer o futuro.
Um dia temos que deixar a Terra já seja de forma voluntaria como adolescentes rebeldes que querem deixar seu lar para se aventurar  na vida ou forçados por alguma grande catástrofe que coloque a sobrevivência de nossa espécie em risco. Talvez seja um pouco cedo. Talvez ainda não tenha chegado a hora. Mas esses outros mundos que existem lá fora – promissores oportunidades ilimitadas – acenam, chamando-nos.
Nossa civilização esta enfrentando diversos problemas, entre elas a pobreza extrema em grande parte do mundo, crise econômica, escassez de água e outros problemas políticos, isso nos faz pensar e questionar sobre os recursos que são gastos na exploração espacial como o envio de robôs a Marte e o grande uso de recursos econômicos para manter a estação espacial internacional habitada por seres humanos, então a questão que vem a nos é com todos estes problemas se faz sentido partir. Deveríamos resolver esses problemas primeiro? Ou serão eles uma razão a mais para partir?

Adaptado do livro "Pálido Ponto Azul" de Carl Edward Sagan

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